MaThas poesia

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Florescer


Diálogo


Das profundezas do mar as ondas vieram 
e no fluir de quem se entrega 
desaguaram 
e assim falaram e falaram... 

Em silêncio, e na firmeza de quem suporta, 
as pedras da costa escutaram e escutaram... 

Os diferentes se encontraram, 
e na verdade do que são, 
se abraçaram, não se desviaram. 

Desse diálogo generoso, demorado e profundo 
nasceu o chão macio 
dessa praia que agora descanso. 


MaThas

segunda-feira, 19 de março de 2018

Por onde quer que tu fores

Por onde quer que tu fores
Que em teu caminho haja flores.

Se em teu caminhar não as encontrar
Que nele possas gozar de doces amores.

Se em teu caminho de amores não desfrutar
Que pequenas e mansas seja tuas dores.

Se acaso alguma delas te sobrepesar
Que passageiros então sejam teus temores.

Se porventura neles um pouco mais se demorar
Que teus pés não vacilem em indomáveis tremores.

Mas acima de tudo, se no teu caminho tropeçar
Que possas então mil vezes se levantar

E assim, apesar de todos e qualquer dissabores
Que possas o teu caminho caminhar 

Por onde quer que tu fores 
Seja lá quando e como tu fores

MaThas

Na paz do lago


sexta-feira, 2 de março de 2018

Até hoje


Até hoje ainda não houve uma única noite,
Por mais fria e longa que fosse,
Que não tenha lentamente despido-se 
Em raiar de um novo dia. 

Até hoje ainda não houve nenhum dia,
Nem aqueles da mais radiante e promissora luz
Que não tenha por fim vestido-se 
De escura e profunda noite.

Até hoje o céu nos lembra,
Todos os dias e todas as noites,
Que todos dançamos entre luz e escuridão. 

Até hoje em todo entardecer e todo amanhecer
O céu renova sua fantasia e nos brinda
Encenando a dança da vida.

Até hoje está tudo no céu
Nada nos é escondido
E sob este ir e vir de dias e noites
Tecemos nossa trama transitória.

Até hoje é assim 
E sempre o será.

MaThas

Oração


Que este corpo seja vitalidade
Que este coração seja amor
Que esta mente seja clareza
Que esta alma seja luz

... e que eu não mais peça
por aquilo que já sou

MaThas

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Os felizes


Felizes os que não se opõem à infelicidade,
que ventilam no peito espaço o bastante
para os descompassos do coração.

Felizes os que livres da culpa suportam dizer não
e os que desprovidos de culpa aguentam dizer sim.

Felizes os que não se levam tão a sério,
exemplos de nada exemplar,
caros e valiosos desespeciais. 

Felizes aqueles que esqueceram as credenciais
e mesmo assim foram...

Felizes os que não decoraram a lição,
não emolduraram em ouro o diploma
e que em nada são doutores.

Felizes os que improvisaram um caminho
que foi reimprovisado depois, e depois e depois.

Felizes os que não temem temer
e que sentem exatamente o que sentem.

Felizes os que não têm nada para vender ou convencer,
os de mãos vazias, cara limpa e pés no chão.

Felizes os que por não saberem-se felizes
não comemoram ou perseguem a felicidade,
nem prendem-se a motivos para brincar, sorrir e chorar.

Felizes mesmos são os que amam
sem justificativa, medo ou pudor. 

Felizes são os que não se convencem por convenção alguma.

Felizes os que tem um balde para chutar
uma melodia para desafinar e tempo para perder.

Felizes os alheios à justificadas fontes da nossa infelicidade.

Felizes os que se encantam
com aqueles que nos lembram que a felicidade 
nada mais é que um estado de esquecimento.

MaThas



quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Pai

A tua ausência é como o céu
Presença sob a qual caminho todos os dias
Moldura que não posso tocar
Verso meu que não podes escutar

MaThas

Em silêncio

Cultivar o silêncio
é fazer-se semente
que se oculta na terra 
e o canto da árvore 
já cala no ventre

MaThas